Longe de mim estar a fazer campanha eleitoral, coisa que não me interessa e da qual cada vez quero mais distância. Ainda assim, não deixa de me surpreender que após tudo o que este governo fez pela educação em geral e pelo ensino da música em particular haja a real lata de se querer fazer um bonito em público e fazer a festa das escolas da música no CCB, na qual se poderá mostrar que afinal está tudo bem no jardim à beira-mar plantado. Afinal de contas o povo é sereno, o rectângulo é ingovernável, como diz o outro senhor que não asfixia ninguém e os músicos ficam contentes se lhes derem a oportunidade de se apresentar no CCB. Parece-me a mesma lógica de tirar as terras aos índios em troca de missangas. Afinal de contas o CCB não é tão brilhante mas é bem maior.
A real lata para mim continua pelo facto de a grande festa ter tido a sua data alterada para um dia antes, por forma a não coincidir com as eleições. Acabemos o mandato in a blaze of glory e pode ser que os pobrezinhos fiquem tão contentes de ir a Belém que se esqueçam do que se passou. Pior que isso, marquemos a data ser consultar as escolas, digamos-lhes depois que a data é inalterável devido à programação do CCB, combinemos com o CCB a alteração da mesma data depois de serem anunciadas as eleições e por último, umas semanas mais tarde, informemos as centenas de participantes. Afinal de contas ninguém pode ter mais nada que fazer.
A coisa mais triste é que não vejo ninguém a concordar comigo. A dizer que os músicos são mais do que um DVD que se põe a tocar quando dá jeito. Que devíamos dizer que quem destroia fonte não tem direito a beber água, ou melhor, a vender garrafas. Que todos os alunos e professores de música do país deveriam is ao CCB à grande festa para fazer 1001 minutos de silêncio em palco, in memoriam dos conservatórios, cada vez menos centros de partilha de experiências e saberes e locais de crescimento e cada vez mais potenciais fábricas de inúteis normalizados, como fruta de supermercado. O único minuto de silêncio foi a resposta que me foi dada ao sugerir a ideia de ir para o palco de luto e em silêncio.
Aquilo que me pergunto é se não temos realmente tudo aquilo que merecemos. Quem será realmente pior, a marioneta, mesmo que se queixe da sua sorte, ou quem a manipula?