sexta-feira, abril 30, 2010

Crítica inglesa


The London Sinfonietta premiered Pedro Amaral's chamber opera O Sonho last night at London's Robin Howard Dance Theatre. It's based on an unfinished play by Fernando Pessoa, the eccentric genius of Portuguese literature (pictured here).  Pessoa's whole life was an art form. He's the Edgard Varèse of literature, pioneering new ways of interpreting reality and identity (see more here)

Dreams exist for a purpose. They mean something, but by their very nature, they don't follow the rules of reason. Yet what is reason? Many cultures use dream as altered reality. As Pessoa shows, it's possible to use dream creatively.

Amaral's approach is robust. His music is highly dramatic, full of assertive character, very much an active protagonist. The English translation is projected onto a backdrop, as if it's materialized straight off Pessoa's ancient typewriter, another invisible "person" operating in another dimension. Still, as in a dream, specific words don't matter so much as the overall emotional impact.

Pessoa (Jorge Vaz de Carvalho) appears. Like a master of ceremonies, he opens the show with the provocative words "I see before me, in the transparent but real space of dream, the faces  and gestures of Caeiro, Ricardo Reis and Alvaro de Campos" (the personalities through which his work was channelled). They flank him, dressed like him but clearly "not" him.

Salome is a role in a play Pessoa's writing, but now she comes alive. Carla Caramujo is a force of nature, her voice adding nuance and individuality to what she sings even if the words don't make much sense. She lives in an enhanced dream state. It's a mystery to her why she's asked for something so gruesome as the head of St John The Baptist, whom she recognizes as a kind of soulmate, for prophets dream of things that have not yet happened.  But is the head she sees (we have to imagine it) that of the saint or a common criminal? Salome's never quite sure,  and that conflict is the essence of her dilemma.

Amaral's  unusual choice of instruments integrates the ideas in the play into the music. He calls it "dédoublement", because this is more than simple shadowing. A disproportionately large number of celli, which in theory might seem unbalanced, but in practice, works beautifully. They are  led by the harp, deepened by double bass, xylophone and marimba. This is Salome's music, shimmering and sensual, but with a strong basic pulse in the harp ((Helen Tunstall). Three flutes add a distinctive second "personality" - some very inventive passages there that might be developed in future works, perhaps. Amaral is still in his 30's but O Sonho is a surprisingly mature, assertive work.  The subject matter may confuse on first hearing, but once you make the conceptual leap that meaning is "beyond" words, the music speaks for itself. One particularly well written passage interplayed conventional singing with long, wordless ululation. It was mysterious, like dream, yet also evoked a sense of the desert that surrounds Salome, where horizons dissolve in haze, and the sands constantly shift their shape.

Amaral's music is very distinctive. It's hard to describe him in terms of others because he sounds so much himself. O Sonho really deserves to be heard again, better publicised and in a bigger hall.  The staging, by Fernanda Lapa, is excellent too, showing how much can be done with minimal resources if the person directing knows what the opera is about.  The whole cast, singing and non singing, on stage and off,  seem passionately committed: this really feels like tight ensemble work.

The Gulbenkian Foundation was created by the Gulbenkian family who were genuine art lovers.  They could have made an impact in anywhere in Europe, but chose Lisbon, where the ambience fitted their cultivated, individualistic values. The Gulbenkians would be proud of what the Foundation does to promote works like O Sonho, iconoclastic but creative and very distinctive.

quinta-feira, abril 29, 2010

Mais Sonho


Agora que se aproxima a estreia no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, aqui ficam mais umas fotos minhas acompanhado pelas Salomés, Carla, Sara e Ângela, e o meu algoz, Mário.
Para quem quiser ver ao vivo é só ir à Gulbenkian na Segunda-feira e ver a primeira ópera portuguesa encenada encomendada pela Fundação nos últimos 30 anos. Até lá!

terça-feira, abril 27, 2010

O Sonho

Regressado de Londres, toda a viagem foi tão rápida que efectivamente já parece um sonho. Entre todos os sustos causados pelo vulcão de nome impronunciável e o stress de última hora associado à estreia de qualquer produção, sobretudo uma dividida por dois países, valeu-nos o grande profissionalismo e simpatia de todos os envolvidos. Tendo já passado pela preparação de papeis de ópera neste tipo de linguagem, sei bem  a dificuldade por que passaram as minhas colegas de elenco, todas com papeis muito maiores que o meu. Ainda assim, foi sempre um prazer estar com elas, ver o seu altíssimo nível de desempenho e a boa disposição com que sempre estiveram nos ensaios. Em suma, grandes cantoras e grandes colegas e boas amigas (sem desprimor para os homens e para toda a equipa de produção). 
Para quem quiser ver o resultado final, é só ir ao Grande Auditório da Fundação Gulbenkian na próxima Segunda-feira às 21.00. 

segunda-feira, abril 12, 2010

Messiah





Enquanto passeava pelo youtube encontrei este video do concerto de há duas semanas com o Messias. Teci todos os louvores ao trabalho do Coral Sinfónico e da Saraswati na altura, mas creio que este vídeo consegue captar a emoção que se viveu na tarde do concerto. É sempre bom quando a alegria de fazer música se sobrepõe a tudo o resto e, como constatámos na altura, poucos compositores conseguem transmitir alegria como os do barroco. Uma boa recordação de um belo concerto com colegas extraordinários!

Jeremias Fisher - A História do Menino Peixe


É já no próximo fim-de-semana que o menino peixe vai nadar até ao Porto, onde a comovente história será apresentada no Auditório Carlos Alberto, numa produção do Teatro Nacional de S. João.
Para minha grande pena, desta vez não poderei estar presente, já que estou na última semana de ensaios para O Sonho, e terei que abandonar os colegas de elenco e produção, incluindo os meus queridos "meninos do coro" que fizeram um trabalho notável no CCB. O papel do médico será assegurado, de forma competentíssima sem dúvida, pelo Jorge Martins. Eu fico pela capital, envolvido noutro Sonho, mas com o pensamento no Norte. Para quem não pôde estar no CCB em Janeiro ou quiser um pequeno aperitivo para o Porto, aqui fica!

sexta-feira, abril 09, 2010

O Sonho

Começou a fase final de ensaios da fascinante ópera O Sonho de Pedro Amaral. Baseada num texto dramático inacabado de Fernando Pessoa, a história é uma reinvenção da história de Salomé. Para mim é uma oportunidade extraordinária de participar na criação de uma obra fantástica, com uma excelente equipa. A encenação está a cargo de Fernanda Lapa e a orquestra London Sinfonietta será dirigida pelo próprio compositor. O papel de Salomé será interpretado pelo Soprano Carla Caramujo e as suas aias, que na realidade dividem com ela o papel, sendo quase alter-egos da própria Salomé, por Ângela Alves e Sara Braga Simões. O elenco completa-se com três Barítonos, Jorge Vaz de Carvalho no papel de Herode, Mário Redondo como Capitão e eu próprio como Escravo. Só pelos nomes que já mencionei, dá para compreender que o nome da ópera está muito bem atribuído, já que é realmente uma oportunidade de sonho para mim. 
A estreia será em Londres, no auditório The Place no próximo dia 25 de Abril, mas para quem está por terras lusas há sempre a possibilidade de a ouvir no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian no dia 3 de Maio às 21.00. Para saber mais pormenores e conhecer mais sobre a visão do compositor, meu antigo colega do Instituto Gregoriano transformado num dos grandes compositores da sua geração, é só ir aqui à newsletter da Fundação.

Two down, one to go...

Passada a aprovação no Parlamento e o parecer favorável do Tribunal Constitucional (Duh!) estamos apenas a um passo da legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo em Portugal. Faltam apenas duas semanas para saber se o Presidente da República vai promulgar a lei. De uma forma bastante simbólica a data limite para uma decisão será o dia 25 de Abril. Será que este ano passaremos a poder celebrar um novo nível de liberdade nesse dia? Só tenho pena de não poder estar nas manifestações se for esse o caso, já que não vou estar em Portugal.
Apesar das vozes dos Velhos (e velhas...) do Restelo, o progresso é inevitável e o Casamento será acessível a todos~mais cedo ou mais tarde. Será para já?...