sexta-feira, outubro 28, 2011

Concerto de abertura do ano lectivo

No próximo Sábado pelas 17.00, antes de me pôr a caminho de Almada, terei tempo para participar no concerto de abertura do ano lectivo como solista na cantata Gott sei mir gnädig de Kuhnau.
Para quem ainda não conheça o auditório Vianna da Motta da Escola Superior de Música de Lisboa, ou para todos os que queiram juntar-se à comemoração do início de mais um ano no qual, apesar das dificuldades, a ESML continuará a formar os músicos do futuro.

quinta-feira, outubro 27, 2011

Requiem de Duarte Lobo

No próximo Sábado, dia 29, estarei com o Grupo Vocal Olisipo em Cacilhas, para mais uma vez participar no festival Sons de Almada Velha. 
Desta feita iremos interpretar o Requiem a oito vozes de Duarte Lobo, que cantámos pela última vez há um ano na Sé de Évora.
É um concerto de especial significado, já que é feito no fim de semana antes do dia de Todos os Santos, véspera de dia de finados, e numa igreja na qual se abrigaram alguns dos sobreviventes do terremoto de 1755 que, como se sabe, se deu nesse mesmo dia, há 256 anos. Será um concerto com a presença da História e, para além do mais, com música magnífica. 
Espero ver muitas caras conhecidas na Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, mesmo ao lado da saída dos barcos em Cacilhas. Até lá!

quarta-feira, outubro 26, 2011

Coro de Câmara do IGL na Faculdade de Medicina de Lisboa

Ontem, dia 24, o Coro de Câmara do IGL esteve presente na abertura oficial do ano na Faculdade de Medicina da Lisboa. A Música e a Medicina têm atraido em igual número uma série de alunos meus ao longo dos anos, o que fez com que tenhamos actuado várias vezes em funções da Faculdade. Já há alguns anos que isto não acontecia e fui agradavelmente surpreendido por um púsblico atento e entusiasta que deu a devida dignidade ao momento sem o tornar, por outro lado, minimamente enfadonho.
Após passar pelo CCB num momento em que tudo isto deveria ter sido verdade e não foi, uma organização destas, a cargo dos alunos, dá-me alguma esperança quanto ao futuro do país...

terça-feira, outubro 11, 2011

1001 coisos











Pois é, lá passou mais um ano e o rei ainda vai nu. De alguma forma dizer que vai nu parece-me pouco. Ou nos anos passados ainda tinha uns trapitos ou agora tem uma figura mais grotesca, do tipo homem invisível (ou Robbie Williams no Rock DJ), no qual a pele já desapareceu também e já só vemos um monte de entranhas ambulantes.
Para quem não faça ideia do que se passou, no passado Sábado estive no CCB com o Coro de Câmara do IGL para participar na iniciativa 1001 músicos, a "festa das escolas de música" na qual estão "mil e um jovens músicos juntos na grande celebração da música" (sic, ou será sick?). Esta iniciativa, começada pelo Ministério da Educação da outra senhora, Maria de Lurdes Rodrigues, pretende apresentar o trabalho das escolas de música ao público. A falha óbvia de ser um concerto nas promeiras semanas de aulas, quando os alunos acabaram de estar afastados das escolas durante alguns meses não parece ter afectado o ministério e levá-lo a reconsiderar a data. O facto de os sucessivos governos estarem a fazer o seu melhor para destruir o ensino das artes e a vida cultural em geral não parece afectar as escolas, que continuam a degladiar-se pela honra duvidosa de se apresentarem no CCB umas para as outras (este ano, que eu tenha tido conhecimento o ministro não nos brindou com a sua presença). Será por ser professor de Canto Gregoriano que me vem à cabeça a imagem dos cristãos na arena para divertimento dos nobres romanos que muitas vezes teriam mais que fazer do que olhar para a arena? Será excessivo ver um paralelismo com esta situação em que uns lutam pela sobrevivência e outros se divertem quando têm tempo para isso e acham que a sobrevivência de alguns se deve a magnanimidade de uns poucos? Se estiver a ser dramático não me liguem! Sou artista...
A verdade é que, apesar das queixas e das minhas sugestões sucessivas de manifestações públicas de desagrado, lutos públicos ou concertos em silêncio, ninguém me liga. Sou selecionado para a apresentação porque a qualidade ainda é valorizada por alguns dos pares e lá estou porque os pares acham que é importante aparecer e fazer o melhor possível. Se agradarmos aos senhores, talvez não seja tão mau. Se estivermos entre os melhores, talvez César não vire o polegar para baixo. Devo ser o único a achar que nos estão a distrair com actividades para não vermos o que se passa; todos os que estão na arena morrem mais cedo ou mais tarde, mesmo que dêem um bom espectáculo.
Ao ler isto alguns pensarão, mas ele está a queixar-se de quê? Tem trabalho na área que escolheu, tem qualidade suficiente para ser seleccionado para um evento selecto numa das maiores salas do país! Pois, mas seria bom que tudo isto fosse apreciado por quem organiza. Que os motivos fossem transparentes. Que todo o processo fosse digno. O dia em que deixe de fazer o meu trabalho com o maior empenho, que deixe de apreciar a qualidade sublime e transcendente da música que apresento (neste caso dois dos maiores compositores da História, Bach e John Lennon), que deixe de saber o privilégio único que é fazer grande música em conjunto com outros e ajudar um grupo de jovens a evoluir como artistas e seres humanos e a descobrir este privilégio será o dia em que mudo de profissão. Ainda assim, não é disto que se trata.
Enfim, o rei ainda vai nu, a banda ainda toca enquanto o Titanic se afunda e nós ainda cá andamos, a cantar umas cantigas...

P.S. O penúltimo paragrafo é a mais pura das verdades e não podia apreciar mais a dedicação, empenho e profissionalismo do Coro de Câmara do IGL que NUNCA falha. Apesar do mau feitio, obrigado...

P.P.S. para verem que não estou a ficar doido e rabujento ao aproximar-me dos 40, aqui está o que escrevi há um ano

segunda-feira, outubro 10, 2011

Frase do dia

Whether or not we follow any particular spiritual tradition, the benefits of love and kindness are obvious to anyone.

Dalai Lama

Nobel

Allegro

After a black day, I play Haydn,
and feel a little warmth in my hands.
The keys are ready. Kind hammers fall.
The sound is spirited, green, and full of silence.

The sound says that freedom exists
and someone pays no taxes to Caesar.

I shove my hands in my haydnpockets
and act like a man who is calm about it all.

I raise my haydnflag. The signal is:
"We do not surrender. But want peace."

The music is a house of glass standing on a slope;
rocks are flying, rocks are rolling.

The rocks roll straight through the house
but every pane of glass is still whole.

Tomas Tranströmer

quinta-feira, outubro 06, 2011

Dear Mr. President



Nos tempos que correm e mais ainda nos que se avizinham, muito há para dizer quanto à classe política que nos governa. Para cada lado que se olha torna-se evidente a fragilidade da nossa condição e a celeriade com que toda a ilusão de estabilidade da maioria de nós se dissipa em virtude dos caprichos de alguns. Se a ambição é um dos motores da sociedade e da evolução dos seres humanos, a verdade é que a ambição desmedida nada contribui para uma sociedade justa nem para a felicidade de ninguém, nem de quem tudo espezinha no caminho que para si traçou e sobretudo não de quem é espezinhado.
A Pink verbalizou tudo isto muito melhor do que eu poderia:





Dear Mr. President,
Come take a walk with me.
Let's pretend we're just two people and
You're not better than me.
I'd like to ask you some questions if we can speak honestly.

What do you feel when you see all the homeless on the street?
Who do you pray for at night before you go to sleep?
What do you feel when you look in the mirror?
Are you proud?

How do you sleep while the rest of us cry?
How do you dream when a mother has no chance to say goodbye?
How do you walk with your head held high?
Can you even look me in the eye
And tell me why?

Dear Mr. President,
Were you a lonely boy?
Are you a lonely boy?
Are you a lonely boy?
How can you say
No child is left behind?
We're not dumb and we're not blind.
They're all sitting in your cells
While you pave the road to hell.

What kind of father would take his own daughter's rights away?
And what kind of father might hate his own daughter if she were gay?
I can only imagine what the first lady has to say
You've come a long way from whiskey and cocaine.

How do you sleep while the rest of us cry?
How do you dream when a mother has no chance to say goodbye?
How do you walk with your head held high?
Can you even look me in the eye?

Let me tell you 'bout hard work
Minimum wage with a baby on the way
Let me tell you 'bout hard work
Rebuilding your house after the bombs took them away
Let me tell you 'bout hard work
Building a bed out of a cardboard box
Let me tell you 'bout hard work
You don't know nothing 'bout hard work

How do you sleep at night?
How do you walk with your head held high?
Dear Mr. President,
You'd never take a walk with me.
Would you?

quarta-feira, outubro 05, 2011

Salir el Amor del Mundo







































Terminada uma semana fantástica de trabalho na preparação da Zarzuela Salir el Amor del Mundo aqui ficam as imagens tiradas no final do espectáculo. Penso que seja claro para todos o ambiente de descontracção e companheirismo que nos acompanhou durante toda esta semana e no próprio espectáculo. O Grupo Vocal Olisipo está prestes a começar ensaios para o seu próximo projecto e espero que não falte muito para a próxima oportunidade de trabalhar com o Quarteto Arabesco! 

segunda-feira, outubro 03, 2011

Geração Heidi vs. Geração Pokémon


GERAÇÃO HEIDI
Têm hoje 30 anos, ou à volta disso. Chamavam-se Anas "qualquer coisa..." (especialmente Cristina, Filipa, Rita ou Sofia). As outras eram Carla, Sandra ou Sónia. Os rapazes eram João "qualquer coisa..." (geralmente Pedro, Nuno ou Paulo) ou Luís Miguel. Muitas mães eram domésticas, e levantavam-se mais cedo para enfiarem almôndegas à força nos termos da escola. As que não eram andavam muito ocupadas nas manifestações e davam dinheiro para comer na cantina. Principal preocupação dos pais: que os filhos dessem em doutores.

Pequeno-almoço: papa de qualquer coisa, se possível com leite gordo e muito açúcar, ou então café com leite. Lanche: uma carcaça mole ensopada de doce de morango ou marmelada. Comida da cantina: carne assada com massa, bife com massa ou jardineira.

Levava-se para a escola: uma mochila verde tipo tropa com fechos de cabedal que encaracolavam no segundo dia e com inscrições dos grupos favoritos. Havia uma régua espetada nos dias das aulas de desenho. Pesavam toneladas. Não se conseguia encontrar os livros escolares. Estavam sempre esgotados porque eram os mesmos para toda a gente. Havia quem os forrasse para passarem para o irmão mais novo no ano seguinte. Na papelaria da esquina comprava-se 1 embalagem de marcadores, 1 afia, 1 borracha, 1 esquadro e era suposto que desse para todo o ano.

Na ginástica, usava-se sapatilhas brancas e fatos de treino azul escuro, encarnados ou verdes com uma risca branca e uns fechos muito desconfortáveis que faziam uma marreca à frente.

Nas aulas: faziam-se cadernos de autógrafos a dizer: "Nas ondas do teu cabelo, ensinaste-me a nadar / Agora que estás careca, ensina-me a patinar". Passavam-se papelinhos.

Nas férias: iam para a casa dos avós ou eram deixados à balda. Vestia-se aquilo que viesse à mão. Blusas verde-eléctrico com golas de bico, calças de bombazine com joalheiras. As meninas podiam ter aplicações de malmequeres de pano, vestiam saias de pregas sem nenhuma forma e sapatos rasos com lacinhos. Ambos: pull-overs às riscas, camisolas tricotadas pelas mães dois números acima, kispos (que deveriam durar quatro anos, no mínimo), galochas amarelas e botas caneleiras. Não havia a Zara. Era normal ser-se muito feio com 10 anos.

Trocavam-se cromos das Maravilhas da Natureza, da Heidi, do Vicky ou da caderneta do Benfica. Em casa brincava-se: às bonecas, aos carrinhos e com os bonecos dos Strunfs. Jogava-se ao jogo da Glória e ao Monopólio. Batia-se nos irmãos. Com os amigos, andava-se de skate, jogava-se ao elástico, o bate-pé e ao quarto-escuro. Alguns ficavam na rua a tarde toda a jogar à bola e a andar de bicicleta.


Lia-se: "A Condessa de Ségur", os "Cinco", as "Gémeas no Colégio de Santa Clara" e a Patrícia, a Mónica, a Mafaldinha e o Astérix. Os rapazes liam o Michel Vaillant. Na televisão via-se a "Abelha Maia", a "Água Viva" e o "Espaço 1999" (em reposição contínua), O Vasco Granja com desenhos animados checoslovacos que ensinavam a atravessar a rua, a Pantera cor-de-rosa e o professor Baltazar. Aos domingos, o Júlio Isidro, o "Sítio do picapau amarelo", "Dallas, o "Homem da Atlântida", os "Marretas" os "Anjos de Charlie" e "Os 3 Dukes".


No cinema: "7 noivas para 7 irmãos", "Sissi", "ET", a "Musica no coração" pela 2934484.ª vez, e"Os malucos" em outras fases da sua existência.


Ídolos: O Chalana, os Queen, Duran Duran, Billy Idol, Bruce Springsteen, Brian Adams, Sheena Easton e Bob Geldolf.

O que se vai recordar: esfregar a sola dos sapatos novos no passeio. A bola da comida de termo no prato. Verdade ou consequência. Os Porcos no Espaço. A tiara de lata da Supermulher, as barbatanas entre os dedos do Patrick Duffy. Os pacotes de Belinhas.

GERAÇÃO POKÉMON
Têm hoje 10 anos ou por volta disso. Chamam-se Joana, Inês e Filipa. Ou então, Marta, Mariana, Madalena ou Rita, sem falar na Cátia e na Vanessa, claro. Os rapazes são André, Tiago, Bernando, Fábio ou Marco. As mães trabalham até às 8 da noite, passam duas horas paradas no tabuleiro da ponte a ouvir a Rádio Nostalgia ou a pensar na vida e sabem que descongelar é uma arte. Principal preocupação dos pais: que os filhos não dêem em drogados.

Pequeno almoço: qualquer coisa que tenha crocante, chocolate e brinde escrito no mesmo pacote. Lanche: donuts, batatas fritas, tiras de milho frito ou snacks de chocolate. Comida da cantina: carne assada com massa, frango com massa ou bife com massa.


Levam para a escola uma mochila de rodinhas. Ou, então, mochilas impermeáveis de marca, pretas ou azul-escuro. Continuam a pesar toneladas. Em Setembro vão ao corredor do hipermercado que diz "Regresso às Aulas" e compram milhares de canetas, aguarelas e lápis de cera. Têm coisas sofisticadíssimas dentro do estojo, principalmente as meninas: borrachas com cheiro a tangerina, elásticos e fitas do cabelo, autocolantes minúsculos e pulseiras.

Na ginástica, as meninas vestem tops e calças de lycra. Os rapazes, calções. Ambos: ténis com sola fluorescente e que não digam "Made in Indonesia". Nas aulas: jogam Gameboy e mandam mensagens pelo telemóvel.

Nas férias: vão para campos de férias moer o juízo dos animadores ou passam 15 dias em Inglaterra a estudar Inglês. Os mais sortudos vão para casa de um amigo. Ambos vestem calças e sweat-shirts com t-shirt por baixo ténis em camurça. As meninas usam brincos, pulseiras, borboletas autocolantes para espetar no pescoço, molas, ganchos, malinhas, gel fluorescente. Há calças especiais para meninas, mais justas em cima. Todos os anos (algumas todos os dias) têm roupa nova. Não é suposto andarem andrajosos, nem no recreio. Conhecem-se as tendências internacionais. Há marcas que usam e outras que só por cima do seu cadáver. Trocam-se cartas do Pokémon e brindes de pacotes de batatas fritas. Quem pode, joga computador e fala num chat da Internet até às 4 da manhã. Vê-se televisão. Bate-se nos irmãos (é bom ver que algumas coisas não mudam). Nunca se brinca na rua porque se pode ser raptado por um pedófilo. O tempo que não se está na escola, está-se no inglês, na natação, no taekondo, no kickboxing ou, então, em casa a olhar para o ar.

Lêem: a colecção "Uma aventura" e outros autores portugueses. Os "Arrepios". "O clube das Amigas". Os mais intelectuais já se atiram ao Harry Potter.

Na televisão vêem: tudo o que os adultos vêem...

Não sei porquê, mas acho que alguma coisa, algures no meio deste processo, não correu bem…