sexta-feira, setembro 29, 2006

Olisipo no Monte dos Perdigões


A música e o vinho são dois dos grandes prazeres da vida que se juntaram no passado Domingo na inauguração da gigantesca adega do Monte dos Perdigões, perto de Reguengos de Monsaraz.
Foi nesta lindíssima propriedade, pertencente noutros tempos a Damião de Gois e, uns quatro séculos mais tarde, ao seu descendente Luís de Freitas Branco, que tivemos oportunidade de actuar em conjunto com o Quarteto Lacerda.

Apesar do cheiro avassalador do mosto e do ruido constante dos telemóveis dos colunáveis foi uma tarde muitíssimo bem passada, com boa música, um excelente almoço bem regado com vinhos da região (o tinto já o de produção própria) e, mais importante óptima companhia. Não há como o Alentejo!

Privilégios


A Escola Superior de Música de Lisboa pode ter muitos defeitos, grande parte dos quais ligados à exiguidade e precariedade das instalações. Por isso mesmo, todos os professores e alunos anseiam pela mudança para as novas instalações no campus universitário de Benfica.
No entanto, e apesar de todos os problemas, a vista magnífica das janelas da Rua do Ataíde não perdeu nada do seu encanto desde que para lá entrei há 15 anos. Não há de certeza outra escola com uma vista mais deslumbrante, como mostram as fotos que tirei da janela da minha sala no primeiro dia de aulas.
Temos ou não temos a cidade mais linda do mundo?

terça-feira, setembro 26, 2006

Dia da Música

É verdade, já passou mais um ano. É já este Domingo que se comemora o dia da Música. Para comemorar a data as duas escolas oficiais da capital (para quem não sabe o Conservatório Nacional e o Instituto Gregoriano) vão repetir o concerto final do ano lectivo passado, interpretando a Missa Nº2 em mi m de Anton Bruckner. Teremos uma vez mais o Coro do IGL e o Coro da Escola de Música no Conservatório Nacional, acompanhados pela Orquestra e Sopros da EMCN, tudo isto dirigido pelo maestro José Augusto Carneiro.
Na primeira parte do concerto poderão ainda ouvir o Coro de Câmara do IGL (cantando partes do Requiem de Duarte Lobo) e o Coro Peregrinação da EMCN.
Bem sei que a maioria terá os seus próprios concertos nesta data, mas para os restantes, espero encontrar-vos no Domingo às 21.00 na Sé.

sábado, setembro 23, 2006

Grandes mudanças 3

Desta ainda menos gente sabe, e é a menos certa de todas, mas já que falo de mudanças senti uma certa compulsão para fazer o poste. Não me vou alongar, até porque realmente não tenho quaisquer certezas, mas tudo se parece encaminhar num certo sentido.
Lá que será uma grande mudança, disso não há dúvidas.

Grandes mudanças 2

Outra das grandes mudanças na minha vida para este ano caiu que nem uma bomba durante o Verão. Se por um lado me sinto muito contente e honrado com o convite para ensinar na Escola Superior de Música, por outro lado confesso que foi assustador ver o meu nome na lista dos professores do curso de Canto.
Sei que não vou embandeirar em arco com a situação. Não sou nem mais nem menos competente para o cargo do que era na véspera de ser convidado e sei que o facto de lá estar este ano não quer (absolutamente nada) dizer que lá vá estar para o ano ou daqui a dois anos.
Um pormenor compensador foi a quantidade de pessoas que já me veio perguntar se tenho vagas este ano e para o ano e se nos próximos anos vou dar mais do que o primeiro ano. Compensador porque revelador do carinho das pessoas e de uma relação saudável criada ao longo dos anos.
Como disse, não estou nem vou inchar com o cargo e lembrei-me imediatamente do meu ex-professor, actual colega, que várias vezes me disse (com muita razão) que os professores de canto vêm e vão por modas e que a cada ano há alguém com quem toda a gente quer trabalhar, o que não é necessariamente um sinal de qualidade.
Dito isto, espero não desapontar ninguém e poder continuar ligado à Escola que, com todos os problemas que tem, me formou a mim e a tantos outros e continua a ser a única por estas bandas. O tempo o dirá...

Grandes mudanças 1


Acho que neste momento, depois de algum tempo de incertezas, já posso deixar de ter medo que não seja possível e começar a ter medo que seja!
Após anos e anos a viver no centro da cidade e sem compreender as decisões dos que dela saem vou provavelmente fazer o mesmo.
Caso se concretize a mudança serão todos muito bem vindos para visitar, até porque espaço não falta.
Para quem quiser saber basta ficar atento ao belogue.

Rentrée

Depois de já ter reiniciado a temporada a solo é a vez do Grupo Vocal Olisipo. Vamos cantar este Domingo em Reguengos de Monsaraz num concerto privado de homenagem a Freitas Branco. Teremos a grande honra e prazer de ser acompanhados pelos nossos colegas de editora, o fabuloso Quarteto Lacerda. O programa tem obras de Freitas Branco, D. João IV, Mozart e César Franck.
Apesar de ser um programa a quatro vozes deixo aqui uma das nossas fotos com a minha querida L., que fica sempre bem em qualquer beloguezito!

As intermitências da vida

Como se não bastasse ter tido uma semana na qual estive quase todos os dias no Instituto Gregoriano das 10 da manhã às 8 da noite e com ensaios de seguida, o meu computador fez o favor de morrer a meio da semana! Segundo me parece foi só o botão de ligar que está com algum problema e, pelo menos por enquanto, a máquina voltou ao mundo dos vivos.
Com todas estas atribulações (e algumas outras, que agora não vêm ao caso) andei afastado desta página, mas espero retomar o contacto regular com os meus fiéis (?) leitores.

terça-feira, setembro 19, 2006

quarta-feira, setembro 13, 2006

Frase do dia

Just because everything is different doesn't mean that everything has changed.

John F. Kennedy

Reconhecimento

É bom ver que o trabalho realizado durante uma vida, por mais curta que tenha sido, não desaparece da memória de todos com a facilidade que se pensa.
13 anos depois e algo fica para prestar testemunho da passagem por cá.

terça-feira, setembro 12, 2006

Cenário de luxo

Quem havia de dizer que uma igreja seria um cenário tão fantástico para um recital de canto e piano?
Um engano do afinador que afinou o piano errado reverteu a nosso favor, já que pudemos ter este envolvimento e este piano magníficos em vez de um piano vertical nos claustros do Convento dos Remédios, em Évora.
Uma coisa é certa, com este envolvimento vai ser um aniversário do qual não me vou esquecer por muitos anos!

sexta-feira, setembro 08, 2006

quarta-feira, setembro 06, 2006

Dichterliebe

Pois é, a nova temporada já começou. O nosso meio é tão pequeno e difícil que só me posso dar por contente por ter a oportunidade de repetir mais uma vez o programa de Lied com a minha querida Luiza da Gama Santos. Depois de Lisboa e do Festival da Póvoa de Varzim é a vez de Évora, a convite do Eborae Musica.
Tal como nos outros dois recitais o programa homenageia Mozart e Schumann, compositores dos quais interpretaremos uma série de canções, a saber: Das Veilchen, Der Zauberer, Ariette, Lied der Trennung, Als Luise die Briefe e Kleine Deutsche Kantate de Mozart e o maravilhoso ciclo Dichterliebe de Schumann, uma daquelas obras que quanto mais se conhece mais se gosta.
Tendo em conta a data que se comemora a partir da meia-noite sei que vou ter amigos no público. Todos aqueles com quem ainda não falei são também muito bem vindos!!!

24 mania

Outra das razões para andar tão afastado deste belogue é estar absorvido pela quinta série do fabuloso 24.
Ao contrário da maioria das séries que vão piorando com as repetições, 24 está a ficar cada vez melhor, como comprova a vitória nos Emmys na semana passada. Pela primeira vez a série levou para casa o prémio para melhor realização (pelo mind-blowing primeiro episódio), melhor actor (para Kiefer Sutherland) e melhor série dramática. Nada mal, pensando que está no seu quinto ano de produção. O sucesso está a ser tal que os produtores já têm planos para continuar pelo menos até à oitava série e lançar pelo meio um filme de longa metragem no cinema (previsto para 2008).
O "drama em tempo real" mantém o hábito de nos fazer esperar o inesperado e neste ano grande parte das personagens regulares não vão sobreviver. Muitos, aliás, foram eliminados no já referido primeiro episódio.
Resta-me recomendar que não percam na 2:. Quanto a mim vou agora ver o último episódio!!!

As lentas nuvens fazem sono

As lentas nuvens fazem sono,
O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.

E é suave, como um correr de água,
O sentir que não sou alguém,
Não sou capaz de peso ou mágoa.
Minha alma é aquilo que não tem.

Que bom, à margem do ribeiro
Saber que é ele que vai indo...
E só em sono eu vou primeiro.
E só em sonho eu vou seguindo.

Fernando Pessoa

Este poema é particularmente adequado para a minha vivência desta semana. É a primeira semana do ano lectivo e o Instituto Gregoriano começou da melhor maneira, com uma acção de formação para professores dada pelo Prof. Christopher Bochmann com o tema A Análise através da audição.
Quando digo que começou da melhor maneira é sem a menor ironia, já que quem conhece o Bochmann sabe que ele é absolutamente brilhante. Ter à nossa frente alguém que conhece ao pormenor uma porção considerável do repertório da História da Música Ocidental e que, para além de conhecer, consegue escrever e tocar ao piano na tonalidade certa qualquer parte de todas as peças que nos possam ocorrer, desde a Missa de Machault até ao Marteau sans Maître de Boulez é sem dúvida uma experiência que vale a pena.
Como é evidente, uma pessoa com esta bagagem é necessariamente uma pessoa ocupada. À conta disso, o plano original de ter a acção de formação a durar uma semana com cinco horas diárias (das 10 às 13 e das 15 às 17) teve de ser alterado. Em vez disso temos três dias das 9 às 13 e das 14 às 17. Sete horas por dia a começar às 9 da manhã. Com o calor que tem estado é uma provação que só se ultrapassa pelo facto de o formador ser quem é.
Ainda assim, confesso que a partir da terceira hora já começo a sentir os olhos a revirarem-se e a ficarem colados à nuca. Pouco depois disso chega aquele momento em que as pálpebras se juntam como se tivessem cola de contacto e quando finalmente conseguimos levantar a pálpebra superior ela nos prega a partida e leva a retina atrás. Neste momento temos os olhos completamente abertos mas não vemos nada e apercebemo-nos que se alguém olhar para nós só vai ver o branco dos olhos. Neste ponto surge o dilema: voltar a fechar os olhos e arriscar que todos percebam que estamos a dormir ou continuar a parecer um figurante da Noite dos Mortos-Vivos? Foi uma luta difícil, ao som de Schönberg e Webern. Nem os dois cafés que bebi no intervalo chegaram para eliminar a soneira patológica. Como disse, valha-me o Bochmann, garanto que com alguém menos interessante teria mesmo adormecido.