Caros colegas,
Não queria incomodar ninguém no feriado e, sobretudo, não quero que esta mensagem choque a sensibilidade pessoal ou política de nenhum de vós.
No entanto, sabendo que muitos de nós estão por vezes alheados da realidade quotidiana permito-me avançar com esta mensagem para que todos possam reflectir sobre a sua posição e atitude sobre a situação que vivemos.
Em resposta às medidas anunciadas pelo governo (redução de vencimentos e escalões, aumento da idade da reforma, aumento do horário semanal para 40 horas com o consequente aumento do horário lectivo e despedimentos e alargamento do regime de mobilidade especial aos professores) os sindicatos decretaram uma greve às avaliações desde a passada Sexta-feira, dia 7 até dia 17. Esta greve teve uma adesão de quase 100% na passada Sexta, já que practicamente nenhuma reunião se pôde realizar pela ausência de pelo menos um professor, o que é suficiente para a inviabilizar.
Responsáveis pelo governo têm pedido aos professores para exercerem o direito à greve apenas quando não causar transtorno a ninguém, por exemplo em Agosto ou nos fins-de-semana. Prosseguiram para a ameaça, dizendo que se os professores exercerem o seu direito à greve haverá consequências. Daqui concluo que esta forma de protesto causa efectivamente transtorno e que pode ser a última das armas negociais num longo processo que tem sucessivamente retirado todos os nossos direitos e ameaça continuar inexoravelmente.
A greve é um direito e não uma obrigação. O exercício deste direito não está associado a cores políticas. Por outro lado, o seu não exercício deve ser uma escolha consciente e não uma cega anuência ao que consideramos ser o nosso dever profissional e ao nosso horário de trabalho. Respeito a opinião de quem não faz greve porque é contra a luta por estes meios. Respeito quem não faz greve porque está de acordo com as políticas do governo e a opinião do PR e considera que estamos no bom caminho e não há alternativas. Não respeito quem não se manifesta porque "eles fazem sempre o que querem", porque "mais vale estarmos sossegados" porque "isto ainda se vira contra nós". Como prova do meu respeito estarei amanhã no IGL para que possamos decidir em conjunto se as reuniões se realizam ou não. Estou até disposto a ser aquele que faz greve para que os outros não tenham que ser penalizados no salário (embora tenha esperança de não ser o único). Estou também disposto a abdicar do meu direito se verificar que todos os colegas acham que as reuniões se devem realizar por estarem de acordo com a política do governo. Não abdicarei dele se a vossa posição não for tomada por convicção mas por medo ou apatia. Lembro que estou presente em cerca de 50% dos conselhos de turma, pelo que a minha ausência inviabiliza a sua realização e não permitirei que as notas sejam enviadas para as escolas ou para o ME, nem que para isso tenha que denunciar a situação às referidas entidades.
Aproveito ainda para avisar ou recordar que na Quarta dia 12 às 10.00 haverá uma concentração de professores, pais e alunos do ensino artístico em frente ao ME na 5 de Outubro protestando contra as mais recentes medidas (nomeadamente as integrações nos quadros).
Agradeço a vossa paciência e, respeitando as ideias de cada um, permito-me lembrar que, como diz a sabedoria popular, quem cala consente. Quem não protesta está, implicitamente, de acordo...
Obrigado e até amanhã,
Armando