No dia 21 de Fevereiro de 1988, há precisamente 26 anos, fiz o primeiro concerto com o Grupo Vocal Olisipo, na 1ª Temporada de Música e Dança de Vila Franca de Xira. Quando me juntei àqueles quatro amigos para preparar esse concerto tinha algumas certezas. Tinha a certeza de que a música e o canto fariam parte da minha vida. Tinha a certeza de que o prazer de fazer música em conjunto ultrapassa largamente o de a fazer individualmente. Tinha também uma forte sensação de que os laços de amizade que se criam nesta partilha daquilo que mais íntimo temos são duradouros e resistentes.
Apesar disto, com 16 anos era-me impossível prever o que o futuro reservava é a verdadeira abrangência destes laços.
A primeira grande surpresa que o tempo me reservou foi o facto de 25 anos mais tarde o mesmo grupo ainda existir. Um quarto de século de trabalho ininterrupto de ensaios, concertos, viagens, discussões, zangas, separações e reencontros.
A segunda surpresa é que, dos cinco adolescentes que fizeram aquele primeiro concerto, dois ainda lá estão, protagonistas de todos os sucessos e falhanços, das maiores desavenças e da maior cumplicidade.
Se o impacto na escolha da minha via profissional não foi uma grande surpresa, as experiências que o GVO me proporcionou a esse nível, essas sim, foram! Foi graças ao GVO que conheci o país, em cerca de 300 concertos de Norte a Sul, por igrejas, teatros, auditórios, hotéis, restaurantes, horas e horas de estradas que mostraram o que nenhumas férias poderiam mostrar. Foi com o GVO que pisei pela primeira vez muitos dos grandes palcos do país, alguns dos quais viria a reencontrar como solista, como o Centro Cultural de Belém, o Teatro Rivoli, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Teatro Nacional de São Carlos e tantos outros.
Foi com o GVO que conheci o mundo, desde a nossa primeira viagem à Alemanha em 1991, passando depois por Espanha, França, Inglaterra, Itália, Bélgica, Bulgária, Finlândia, Canadá e Singapura, muitos destes em múltiplas visitas.
Foi com o GVO que conheci pela primeira vez a angústia de participar num concurso e a incomparável excitação de ser premiado, com quatro primeiros prémios internacionais.
Foi através do GVO que pude conhecer muitos dos meus ídolos e tratá-los por "tu". Dos King's Singers ao Hilliard Ensemble. Dos Tallis Scholars a Jill Feldman, muitos foram os músicos de topo que o Olisipo me permitiu conhecer.
Com o GVO soube o que é a emoção de criar uma obra pela primeira vez, tendo, muito antes do que como cantor, a honra de ser dedicatário de obras de grandes compositores como Christopher Bochmann, Ivan Moody, Eurico Carrapatoso, Luis Tinoco Vasco Mendonça, Bob Chilcott e muitos outros que partilharam a sua arte.
Dito tudo isto, contas feitas, o que foi a melhor coisa que o GVO me deu?
Amigos, daquele a sério, que podem não se ver por anos ou mesmo décadas mas voltam imediatamente ao ponto do último encontro, puxados pela força da recordação dos olhares, dos sorrisos, das lágrimas e das gargalhadas partilhadas. Os meus melhores amigos passaram pelo Olisipo. Pessoas maravilhosas que talvez não tivesse conhecido de outra forma. Isso sim, é o que de melhor o Olisipo me deu! Por casamentos e divórcios, por doenças e curas, por mortes e nascimentos, por tudo isto passámos juntos e de lá saímos mais fortes e mais unidos.
Assim tenho a dizer a todos os que me deram a honra e o prazer da sua companhia nestes 25 anos: Desculpem qualquer coisa que tenha corrido menos bem e qualquer disparate que tenha dito e vos possa ter ofendido ou magoado. Não foi sentido e espero que já não tenha importância! Muito Obrigado por tudo o que me deram!
Se me esquecer de alguém no Tag, não levem a mal, mas pode escapar :-). A única das pessoas que não pode falhar e que, por isso mesmo, menciono no texto é aquela que me acompanha desde o início e para quem tudo isto é tão verdade como para mim: Obrigado e parabéns, Elsa! Não há ninguém com quem tivesse sido melhor fazer esta viagem! Vamos lá aos próximos 25 anos...