Será porventura uma fonte de surpresa para os leitores destas notas o facto de ainda não ter feito quaisquer comentários sobre o anunciado fim do Ensino Vocacional Especializado da Música tal como o conhecemos. A verdade é que já há mais de um ano que esta conversa circula pelos corredores das escolas como resultado de algumas afirmações da ministra da educação mas, na realidade, nada de concreto foi publicado. Provavelmente para não criar instabilidade ao divulgar na íntegra os seus planos (caso os tenha) a nossa tutela permitiu que o medo e a incerteza quanto ao futuro se espalhassem por todos os níveis da nossa comunidade escolar, dos alunos ao pessoal não docente, do ensino básico ao superior.
A estratégia é boa. Ao não divulgar mais do que um contorno geral de intenções consegue-se evitar a guerra aberta, já que ninguem sabe com certeza o que está a contestar, mas, ao mesmo tempo dá-se uma certa ilusão de que tudo está a ser discutido e que as opiniões serão ouvidas. Afinal de contas o processo ainda está em estudo e o Governo, tendo maioria absoluta podia aprovar o que quisesse sem ouvir ninguém e não é isso que está a fazer. Ou será?
Permitam-me partilhar uma antiga história de família. Há muitos anos, numa feira, um dos meus tios propôs-se comprar-me um bolo com a seguinte frase: Escolhe o que quiseres, mas escolhe este que é o melhor! Parece-me esta a política actual a vários nívei e certamente ao da educação. Vou dar a todos a possibilidade de escolher o que quiserem, garantindo, no entanto que a escolha é aquela que nós, do alto da nossa omnisciência e omnipotência achamos melhor.
A parte que me assusta mais nada tem, no entanto, que ver com a educação. Quanto tempo faltará para este Estado omnipotente e omnisciente considerar que deve ser também omnipresente? Quanto tempo falta para se considerar que um texto como este que, por enquanto, escrevo livremente, é causador de instabilidade e insegurança para quem o lê e ser retirado da blogosfera? Bem, deixando de ser Cassandra, passemos a factos mais concretos.
Corre o rumor de que as intenções já anunciadas pela ministra de extinguir o ensino vocacional da música no primeiro cíclo do ensino básico e o regime supletivo de frequência serão consgradas na lei brevemente, numa questão de dias. Pessoalmente não sei qual a fonte desta informação e sei apenas dizer que a nossa escola em particular, o Instituto Gregoriano de Lisboa, tem uma reunião marcada com a Agência Nacional para a Qualificação para depois da data anunciada para a dita publicação. Parece-me pouco provável que uma reunião para reunir opiniões fosse marcada depois do facto consumado mas, uma vez mais, Escolhe o que quiseres, mas escolhe este que é o melhor!
Penso que, por tudo aquilo que disse, só saberemos realmente o que se irá passar depois de se ter passado. Penso também que, por muitas vozes contrárias que se ergam, não serão suficientes para travar aquilo que já está decidido desde o início. Ainda assim, não acredito em pura e simplesmente esperar calado na fila para o matadouro. E não tenhamos ilusões, se as decisões forem estas, será o caminho para o matadouro. Por isso mesmo, divulgo aqui a
petição on-line que está a ser feita para travar este processo, e que peço a todos para assinar. Para que quiser saber mais sobre tudo aquilo de que falei, sugiro que sigam este
linque que me pediram para divulgar.
Por último, permito-me citar o texto escrito pelo meu amigo e ilustre compositor, Eurico Carrapatoso, característicamente eloquente:
Crime cultural de lesa-majestade.
Falando no caso particular da Escola de Música do Conservatório Nacional onde ensino Análise e Técnicas de Composição:
O Conservatório Nacional foi fundado no séc. XIX, no tempo de Passos Manuel e Almeida Garrett, ambos humanistas impecáveis.
Sobreviveu a muitas crises.
O Governo actual de José Sócrates visa implementar medidas com efeitos imediatos (já no próximo ano lectivo) que determinam claramente o seu naufrágio, na medida em que uma grande escola com cerca 900 alunos e uma espectacular pulsão vital (alunos no regime de iniciações, integrado e supletivo) fica imediata e irremediavelmente reduzida a uma escola insignificante com cerca de 50 alunos (apenas aqueles que estão no regime integrado).
Acordai!
Eurico Carrapatoso