Salão Nobre recebe ópera de estreia do inglês Christopher Bochmann
Em quase 40 anos de actividade como compositor, nunca Christopher Bochmann (n. 1950) havia abordado a ópera. Ausência hoje (21.00) quebrada, com a estreia de Corpo e Alma, ópera de câmara em sete cenas a partir do drama Pedro, o Cru (1913), de António Patrício (1878-1930), no Salão Nobre do Teatro de São Carlos, dotado de um palco para o efeito.
O autor escolheu este tema "de propósito, porque todos o conhecem". Intenção era "resolver à partida esse problema, para me poder concentrar na interpretação do tema e não na sua narração". Desconhecia o original de Patrício: "li e gostei muito da linguagem usada. Senti-a adequada ao tipo de texto que procurava". Explicita: "em Pedro, o Cru, a história é talvez menos importante que a qualidade da linguagem utilizada."
Em Corpo e Alma, Bochmann quis "traçar a evolução das atitudes de D. Pedro a partir do momento em que exuma o corpo de D. Inês" (1.ª Cena). Nesse momento inicial, o autor usa o mecanismo teatral de "estabelecer, criar um ambiente, a partir do qual o argumento se desenvolve". Vemos um Pedro "ainda razoavelmente lúcido", lucidez que "desaparece a partir do momento em que vê o corpo de Inês", dando início a "vários graus diferentes de delírio".
Segundo Bochmann, a obra divide-se em duas partes com três cenas cada, separadas por uma Dança - "a primeira metade lida com a obsessão de D. Pedro pelo corpo de Inês, a sua memória física dela". Por seu turno, a segunda "tem mais a ver com uma progressiva fusão espiritual com a alma dela". A Dança é "uma invenção minha, que impus". A sua colocação no centro tem uma razão de ser: "a bailarina que aí aparece é a única representação física de D. Inês em toda a obra". Como um momento-pivot, a Dança "culmina o olhar físico de Pedro, para ser interrompida pela segunda parte, que introduz uma viragem na perspectiva do rei". A sua posição "completa as proporções" da obra, uma preocupação de Bochman enquanto compositor.
Corpo e Alma foi ab initio destinada à Sinfónica Juvenil, de quem partiu a encomenda e o compromisso de produzir/estrear a obra - "a ideia foi sempre uma obra de câmara, pois sabia que não teria uma grande orquestra à disposição, nem financiamento para muitas vozes e que deveria controlar a duração [a obra dura cerca de uma hora]". Diz-se "muito contente" com o seu Pedro [Armando Possante] e fala de uma récita "visualmente muito rica", apesar de ser só "uma espécie de encenação"
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