Ouço-te, ó música, subir aguda
à convergente solidão gelada.
Ouço-te, ó música, chegar desnuda
ao vácuo centro, aonde, sustentada
e da esférica treva rodeada,
tu resplandeces e cintilas muda
como o silente gesto, a mão espalmada
por sobre a solidão que amante exsuda
e lacrimosa corre pelo espaço
além de que só luz grita o pavor.
Ouço-te lá pousada, equidistante
desse clarão cuja doçura é de aço
como do frágil mas potente amor
que em teu ouvir-te queda esvoaçante.
Ó música da morte, ó vozes tantas
e tão agudas que o estertor se cala.
Ó música da carne amargurada
de tanto ter perdido que ora esquece.
Ó música da morte, ah quantas, quantas
mortes gritaram no que em ti não fala.
Ó música da mente espedaçada
de tanto ter sonhado o que entretece,
sem cor e sem sentido, no frevor
de sublimar-se nesse além que és tu.
Ó vida feita uma detida morte.
Ó morte feita um inocente amor.
Amor que as asas sobre o corpo nu
fechas tranquilas no possuir da sorte.
Jorge de Sena
O ano Mozart prossegue e fico contente de poder estar a dar o meu contributo continuado. Depois da Missa da Coroação que cantei no Algarve na semana passada, e que foi executada durante uma missa que recordava precisamente os 250 anos da morte de Mozart, é tempo de repetir o sublime Requiem. Para quem quiser dar uns passeios, é no dia 7 de Maio às 21.30 em Alcanena e no dia 14 às 17.30 em Oliveira do Bairro. Ambos os concertos serão com a Orquestra Sinfónica Juvenil e o Coral de Linda-a-Velha. Os solistas serão a Elvira Ferreira, a Laryssa Savchenko, o José Manuel Araújo e eu próprio. Já que vou repetir o Requiem, também me permiti repetir o poema Requiem de Mozart de Jorge de Sena, que já tinha usado uma vez no mesmo contexto, mas que não podia ser mais adequado.
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