sexta-feira, novembro 17, 2006

Ausências...

Aqui estou de volta a este espaço, após uma ausência prolongada causada por uma avaria no meu computador. É assustador ver como em tão poucos anos a nossa existência ficou condicionada pelo funcionamento de uma máquina.
Lembro-me de há alguns anos circular pela net um e-mail que comparava a Geração Heidi (a minha, nascida e crada noa anos 70) com a Geração Pokémon (as crianças dos anos 90). Uma das coisas mais marcantes é a evolução da tecnologia. Para a maioria dos meus alunos, sobretudo para os mais novos, já deve ser difícil imaginar um mundo sem Internet ou telemóveis, mas será que todos têm noção das diferenças?
Quando eu entrei para a escola (quase nos anos 80, atenção) tínhamos dois canais de televisão que emitiam a preto e branco. Eu, como grande parte das pessoas tinha um aparelho que só tinha um canal, portanto só podia ver a RTP 1. Este canal emitia só de manhã, parava à hora de almoço e voltava a transmitir à tarde, continuando pela noite dentro até à meia-noite ou, nos fins de semana, muito mais tarde que isso, com filmes que terminavam quase às duas da manhã!!! De manhã aos Sábados viam-se desenhos animados. Para além da Heidi havia o Marco, o Vicky, o Bana e Flapi, o Jacky, o Dartacão e o Tom Sawyer.
Os discos eram de vinil e copiavam-se para cassettes. Tanto uns como outros se deterioravam com o uso. Uns anos mais tarde apareceram os leitores de cassettes portáteis, que facilitaram a possibilidade de ouvir música fora de casa.
A maioria das pessoas não tinha telefone em casa. Os pedidos para os TLP (Telefones de Lisboa e Porto) demoravam vários anos a ser atendidos. O nosso estava pedido desde antes de eu nascer e apareceu já eu andava na escola.
Havia auto-estrada entre Lisboa e Vila Franca de Xira para o Norte e entre Lisboa e Setúbal para o Sul. Uma viagem para o Porto demorava perto de seis horas, contando com as paragens, claro. De comboio a mesma coisa, o que é relevante já que muita gente não tinha carro.
Jogavam-se jogos de tabuleiro e o Monopólio era sempre um dos favoritos. Passava-se pela casa partida e recebiam-se dois contos. Mais tarde apareceram os jogos de vídeo. O primeiro aparelho de que me lembro era de uma amiga minha e era o clássico e emocionante jogo de ténis no qual cada jogador controlava um traço que se movia na vertical pelo écran e tinha que interceptar um quadrado que se movia a velocidade nada estonteante.
Todas as crianças liam, nem que fossem os omnipresentes livros da Enid Blyton, os Cinco, os Sete, as Gémeas e outros que tais. Outro dos favoritos era o Petzi e a Anita para as meninas. Quando nos aproximavamos da adolescência liamos BD franco-belga: Tintin, Astérix, Luc Orient, Michel Vaillant, Blake e Mortimer ou qualquer outra coisa que nos aparecesse à frente. Os albuns só eram lançados depois de editados página a página na revista Tintin, "para jovens dos 7 aos 77 anos".
Coleccionavam-se cromos e levavam-se para a escola os repetidos para a troca. Os rapazes tinham os de futebol e das séries de ficção científica da moda (Espaço 1999, Star Trek, Galactica) e as meninas tinham os Dias Felizes.
Vestíamos todos roupas iguais (nos dias de ginástica os fatos de treino pretos ou vermelhos com as riscas brancas de lado) que já tinham vindo dos irmãos mais velhos e passariam para os mais novos. As crianças e adolescentes eram tendencialmente muito feiotas, cheias de borbulhas e não usavam cosméticos de qualquer tipo. Os poucos que fumavam ou namoravam antes do sétimo ano eram conhecidos por todos na escola como rebeldes!!!
Mais algum dos meus companheiros de Internet se lembra desta época? Ainda mais importante, sou só eu que às vezes me questiono se a Internet, os sessenta e tal canais de TV, os CDs, os MP3, os PCs, os DVDs e outros que "tês" valem mesmo termos que gramar com a Floribella e os Morangos com Açúcar???

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