domingo, fevereiro 15, 2009

A rose by any other name...

Seguindo a afirmação do Primeiro Ministro José Sócrates de que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo seria uma prioridade da próxima legislatura, como forma de acabar com a descriminação, a conferência episcopal anunciou que qualquer partido que defendesse estes interesses não seria um partido no qual os verdadeiros cristãos devessem votar.
Posteriormente esta afirmação foi clarificada, dizendo que a Igreja nada tem contra os homossexuais e os seus direitos, mas que está apenas a defender o genuino casamento, não estando de forma alguma a apelar aos católicos para que não votem no PS. 
Terminada a exposição tenho algumas dúvidas: 
Como é que a argumentação do PS para votar contr a proposta do BE no final do ano passado (não ser uma prioridade na conjuntura actual) pode ser deitada por terra pelo PS escassos meses depois? 
Como pode a mesma argumentação ser utilizada agora pela Igreja contra o PS? 
Como pode um Estado Europeu que tem na sua constituição a proibição expressa de discriminação baseada na orientação sexual ter que ouvir discursos de um Primeiro Ministro a dar o dito por não dito apregoando a importância da não descriminação como se fosse algo de novo? 
Por que razão temos de ter a União Europeia a afirmar que os casamentos realizados em qualquer estado membro têm de ser reconhecidos em todos os outros e ainda assim ser um debate se os casamentos devem ou não ser legalizados?
Por último, e o mais importante, qual a diferença para a Igreja ou para qualquer pessoa do Nome da Rosa? Se a homossexualidade é completamente errada, porque é que chamar Casamento, União Civil, Matrimónio,  Juntar os Trapinhos ou qualquer outra coisa tem que fazer alguma diferença para o efeito final? Se não é a questão da união em si que está em causa mas sim o que lhe chamamos, então algo está seriamente errado com as prioridades desta gente. Se não é apenas o nome mas todo o conceito e o nome é apenas uma desculpa, então temos um severo caso de hipocrisia.
Parece-me estranho, por último, que se dê tanta importância às práticas sexuais de cada um. A orientação sexual não tem nada a ver com a vida íntima de cada um, facto que a Igreja gosta de lembrar ao falar dos sacerdotes homossexuais. Se assim é, e uma vez que a Igreja não pergunta aos casais heterossexuais nada sobre as suas práticas sexuais antes de lhes dar o direito a casar, porque é que há de ser diferente com os homossexuais. É ainda pior tendo em conta que o casamento é, do ponto de vista civil e legal, um contrato celebrado entre duas pessoas. Se a vida íntima de cada qual não nos impede de pedir um empréstimo bancário ou de comprar um carro porque é que tem de interferir neste contrato em particular?
Se 10% da população é homossexual porque é que consideramos este tema como um debate fracturante da sociedade? Quer-me parecer que à data da mudança de legislação que permitiu os casamentos interraciais, muitas das etnias não caucasianas no nosso país constituriam menos de 10% da população, sendo isto verdade ainda nos dias de hoje. Para todos os caucasianos que me lêem de barriga cheia é bom lembrar que nos EUA, por exemplo, não somos considerados de raça branca, mas sim latina, razão pela qual não poderiamos até recentemente casar com pessoas que eles consideram brancas.
Terminando a conversa, penso que tudo o que eu penso se resume à frase que está num íman no meu frigorífico: Against gay marriage? Don't marry one!

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